Simone Bernardes, uma dedicada artesã sustentável.

Simone Bernardes é uma dedicada artesã sustentável e professora, com uma trajetória marcada pelo compromisso com a sustentabilidade e o empoderamento feminino. Nascida em Campo Grande, no dia 10 de maio de 1968, é filha de Maria de Lourdes de Freitas e sobrinha de Eunice Bernardes Coelho (Tia Nicinha – paterna), duas talentosas estilistas de moda noiva e costura fina. Essas mulheres foram suas grandes musas inspiradoras.

Sua mãe partiu cedo, quando Simone Bernardes tinha apenas 9 anos, mas as lembranças da vida artística e profissional de Maria de Lourdes permaneceram vivas em seu coração. Desde então, as linhas, as agulhas e as “fazendas” (como sua avó chamava os tecidos) de sobras que ela recebia se tornaram suas companheiras constantes. Esses itens sempre estiveram ao seu lado. A perda de sua mãe teve um impacto profundo na vida dela e de suas irmãs, interrompendo seus sonhos e obrigando-as a se adaptar à nova realidade na casa de seu pai e madrasta. Como resultado, o amor pela costura ficou aprisionado por um tempo.

Aos 12 anos, Simone Bernardes resgatou seus dons ao criar suas primeiras peças autorais, vestindo suas modelos — bonecas de plástico. Com o tempo, começou a criar roupas pessoais, e até seus 20 e poucos anos, o fechamento das peças era feito à mão, já que não tinha máquina de costura.

Aos 19 anos, Simone Bernardes se formou em Técnica de Edificações pelo Centro Interescolar Miécimo da Silva, em Campo Grande-RJ. Paralelamente à sua formação, acumulou diversos certificados no SENAC e participou de cursos artesanais de artes manuais e pintura no bairro. Logo, as portas do mercado de trabalho se abriram no ramo da Construção Civil. Mesmo atuando como profissional na área, Simone continuava a aprimorar suas habilidades na costura.

Aos 25 anos, Simone Bernardes teve acesso à sua primeira máquina de costura, uma antiga máquina industrial. Apesar das dificuldades aparentes de iniciar com um equipamento desse porte, ela não se intimidou, teve coragem e se lançou. Começou a criar peças para a casa e roupas para si mesma e para os corajosos que a procuravam, como sua avó e irmãs. Desde então, não parou de se aprimorar. Comprava revistas de moldes e artesanato e executava grande parte do que aprendia nelas. Logo, passou a sentir um enorme prazer em estar sentada à frente da máquina de costura. Foi aí que a chama da sua paixão se reacendeu, e ela se deu conta de onde realmente pertencia. Estar ali, diante da máquina, tornou-se uma terapia, repleta de desafios crescentes.

Seus trabalhos formais nunca a impediram de atender algumas demandas de serviços de costura, vindas de amigos e familiares. Foi nesse momento que Simone Bernardes descobriu que a moda não lhe proporcionava tanto prazer quanto a costura criativa. Em dezembro de 2016, ela criou seu MEI, “Patch by Si Ateliê”, e, em maio de 2017, tomou a decisão de se dedicar plenamente à carreira de artesã, deixando o emprego formal para mergulhar de cabeça nesse universo.

No final de 2017, começou a participar de feiras artesanais, expondo suas criações em tecido. Em junho de 2018, obteve sua certificação junto ao Programa do Artesanato Brasileiro, recebendo a Carteira Nacional do Artesão com a Técnica de Costura Patchwork, já que, naquela época, o Patchwork fazia parte de seu currículo criativo.

Em 2018, aconteceu uma grande virada na vida de Simone Bernardes. Ela conheceu Monique, professora de Biologia e ativista ambiental, que estava expondo produtos de conscientização ecológica na Feira da Casa Bosque, em Campo Grande. Através da orientação dessa profissional e dona da marca BioNique, Simone Bernardes começou a sonhar em tornar suas costuras de patchwork o mais sustentáveis possível. Durante o evento, Monique estava comercializando um objeto que ela não reconheceu, então perguntou o que era. Monique explicou que se tratava de um coletor menstrual de silicone. Simone se espantou e comentou: “Uau! Na minha época, usávamos toalhinhas de pano!” A professora sorriu e disse: “Existem absorventes de pano.” Simone, surpresa novamente, e as duas conversaram bastante sobre o assunto. Foi dessa conversa que surgiu a ideia de confeccionar absorventes de pano.

Simone Bernardes então se dedicou a buscar informações sobre o novo produto que começaria a fazer parte do seu trabalho. No entanto, na época não havia vídeos disponíveis ensinando a fazer os absorventes de pano, então ela mesma se arriscou a modelá-los e começou a doar os primeiros para amigas testarem. Os resultados foram revolucionários para quem usou. Ela recebeu feedbacks positivos, além de sugestões de melhorias, e fez ajustes. Assim, seus primeiros absorventes ecológicos foram expostos e postos à venda. A novidade foi um marco para a região, já que ninguém estava oferecendo o produto e destacando seus benefícios para o meio ambiente e a saúde. Simone começou a vender os absorventes em feiras e nas redes sociais.

A marca Patch by Si ganhou reconhecimento nas Feiras de Artesanato da região. Simone Bernardes estava disseminando conhecimento e fortalecendo a necessidade de mudanças comportamentais para o bem maior: sustentabilidade e o “ecologicamente correto”. A partir desse momento, todas as suas produções passaram a ter como foco a redução do descarte, criando diversas peças paralelamente aos absorventes para minimizar ao máximo o “lixo” gerado.

Em setembro de 2021, Simone Bernardes foi convidada por um grupo de mulheres da UERJ para participar de um projeto que ensinava mulheres da comunidade da Maré/RJ a conhecerem os absorventes ecológicos e a formarem uma turma para aprender a confeccioná-los. O projeto, chamado Matricis, começou no mês seguinte, e foi aí que Simone iniciou sua trajetória como instrutora. Ela passou a ensinar presencialmente as mulheres da comunidade a criar, confeccionar e cuidar dos absorventes. Durante um ano e meio, ela esteve no espaço CADI Maré (Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral – ONG) para essa função.

Em fevereiro de 2023, surgiu um novo convite, desta vez do Instituto Solea (ONG), para ensinar à distância em uma comunidade rural de Caatinguinha, em Santo Estevão/Bahia. A coordenadora do projeto, Sra. Creonice, Diretora Executiva da Associação Comunitária Rural Caatinguinha, reuniu alunas para uma transmissão via Google Meet. As participantes, que já tinham algum conhecimento em costura, logo fizeram seus primeiros absorventes, tanto para uso próprio quanto para doação entre parentes. O projeto foi muito bem recebido na comunidade, que até hoje continua a produzir e vender absorventes de pano, gerando recursos financeiros para projetos locais e para as artesãs.

O empenho de Simone em se diferenciar no mercado de produtos ecológicos artesanais é um dos pontos marcantes de sua trajetória. Ela foi além do simples ato de costurar, buscando entender os mínimos detalhes sobre o uso de seus produtos. O contato direto com o público também foi essencial para seu aprendizado. Explicar sobre os produtos, seus benefícios, cuidados, instruções de descarte e seus impactos ambientais positivos se tornou um compromisso de responsabilidade com todos.

São por estes motivos que essa artesã se sente orgulhosa em designar-se como “artesã sustentável”: por sua história, seu processo evolutivo e pelo que promove ao sistema ecológico. Ela entende que esse caminho é sem fim e que há muito a ser feito também para que seu trabalho, chegue cada vez mais a outras mulheres. Mantendo o compromisso constante, com a redução de descartes e doando uma grande contribuição ao meio ambiente com sua produção consciente e empoderando mulheres a seguir este modelo de produção.

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