Porque o nome Esquina do Pecado em Campo Grande RJ?

Há várias versões para o nome da confluência (esquina do pecado) da avenida Cesário de Melo, a estrada do Cabuçu e a rua Aurélio Figueiredo em Campo Grande, algumas delas são: crimes no local , lugar de prostituição, local onde D Pedro I teria uma amante e a versão mais recente seria uma corruptela de esquina dos pescados ,um local de venda de peixe, para esquina do pecado. Será que alguma dessas versões faz sentido? É o que pretendemos esclarecer com este artigo.

A avenida Cesário de Melo teve seu reconhecimento segundo o  Decreto nº. 3.345, de 06/09/1930 , a estrada começava na estação Senador Vasconcellos e terminava em Santa Cruz, historicamente a avenida fazia parte do antigo caminho dos Jesuítas que ligava Santa Cruz ao colégio dos inacianos no centro da cidade e por onde eram escoados os produtos da fazenda para o colégio no morro do Castelo, com a chegada da corte em 1808 o caminho se tornou estrada e ganhou outros nomes como estrada Real, estrada Imperial e estrada de Santa Cruz na República.

Já a estrada do Cabuçu teve seu reconhecimento em 1917 segundo o decreto  Decreto nº. 1.165, de 31/10/1917 esse decreto é extensivo à todos os logradouros na cidade, antes dele as ruas da cidade não eram reconhecidas oficialmente por decretos. No inicio do século 20 a estrada do Cabuçu começava na antiga estrada do Joary ,atual Olinda Ellis e terminava na estrada da Cachamorra um trajeto bem curto para os dias de hoje.

No ano seguinte em 1918 a estrada do Rio da Prata do Cabuçu como era chamada, sofreu uma alteração e terminava no Alto da Serra do Cabuçu segundo o  Decreto nº. 1.241, de 05/08/1918 deixando-a mais extensa, era por esse trajeto que os produtos do Rio da Prata eram escoados para área urbana do bairro de Campo Grande e próximo a paróquia e essa é uma das razões de haver neste local a escultura de uma laranja descascada retratando a história do bairro Campo Grande e também um possível lugar de descanso para os viajantes a caminho de Santa Cruz segundo o professor Adinalzir Pereira Lamego.

O trajeto entre a avenida Cesário de Melo e a Olinda Ellis, na altura do Prezunic na estrada do Cabuçu conforme notamos na imagem abaixo recortada da Carta do Distrito Federal do Serviço Geográfico Militar de 1922 era um local com algumas casas isoladas, apresentava uma mata rala no entorno e era atravessado por um rio ( rio Cabuçu) exceto pela linha de bonde na região por volta de 1915, era um local praticamente ermo e afastado do centro urbano .No destaque feito pela autora o circulo em vermelho aponta para a confluência ( esquina do pecado) , a seta preta indica o trajeto citado, a seta verde aponta para a atual Olinda Ellis antiga estrada do Joary e a seta rosa a estrada do Rio da Prata do Cabuçu.

O loteamento Vila Jardim por exemplo é de 1934 próximo ao supermercado Prezunic para onde aponta a seta rosa na imagem acima indica que havia grandes extensões de terra no local ou que faziam parte de algum sítio ou mesmo um desmembramento de alguma fazenda.

No meado da década de 30 e com surgimento do loteamento Vila Jardim , a estrada do Cabuçu passa a começar na avenida Cesário de Melo segundo o  Decreto nº. 5.711, de 10/03/1936 finalmente então teremos a confluência (esquina do pecado) como é nos dias atuais e conforme as imagens abaixo dos arquivos da cidade, com mais um destaque da confluência (esquina do pecado) em vermelho e a linha de bonde em verde saindo da rua Aurélio de Figueiredo em direção a estrada do Cabuçu, percebemos a presença de apenas quatro edificações na confluência (esquina do pecado) que estão no local ainda hoje ( atual belíssima , o antigo rei dos quadros atual farmácia no local) além de outras escassas edificações que surgem na rua Macedo Coimbra antiga Doutor Pereira da Costa e ao longo da estrada Cabuçu conforme a imagem.

Em 1941 mesmo depois da estrada do Cabuçu receber o prolongamento até a Cesário de Melo e com o transporte de passageiros pelo bonde, a quantidade de construções no entorno da confluência ( esquina do pecado) ainda é muito escassa.

Já as Feiras Livres foram criadas oficialmente em 1904, na Reforma Passos e segundo Gilmar Mascarenhas de Jesus em Modernidade Urbana e Flexibilidade Tropical: as Feiras livres na cidade do Rio de Janeiro (1904-1934) “Em 1916, a prefeitura resolve expandir o sistema das feiras-livres, as feiras passam então a existir em número e 14, duas para cada dia da semana, no início dos anos trinta, já havia conjunto de 42 feiras (seis para cada dia da semana) e todas as feiras livres ocupam os pontos centrais de cada bairro, junto às estações ferroviárias (quando nos subúrbios), em vias e praças importantes, como Praça Saenz Pefia, Praça da Bandeira, Largo do Machado, Rua Conde de Bonfim, Rua das Laranjeiras, Avenida do Mangue, Rua Barata Ribeiro, Avenida Suburbana etc. A maioria destas ocorria em dias úteis e em horários nos quais o movimento de tráfego atinge seu ápice (evidentemente, alguns anos mais tarde estas feiras migraram por força do incremento do fluxo de veículos).”

Até 1921 não havia uma Feira Livre da prefeitura em Campo Grande , em janeiro 1953 temos num periódico o relato de um Caminhão Feira transferido da praça Três de Maio ( atual Raul Boaventura) para a rua Viúva Dantas por uma questão de melhoramentos de trânsito na cidade como um todo. Em abril do mesmo ano uma feira clandestina com o apoio do Vereador Miécimo da Silva ocupava a Viúva Dantas, depois de muitas disputas na câmara o Prefeito tornou oficial a feira. Dos anos 50 a 70 ainda há registro de feiras livre nas ruas Engenheiro Trindade, Ferreiras Borges, Caldeira de Alvarenga, mas nenhuma feira livre no entorno ou na confluência ( esquina do pecado).

Uma indicação da vida boêmia na confluência (esquina do pecado) tem a ver com a vitória de 1 X 0 do Campo Grande sobre o Botafogo na estreia do Campeonato Carioca em 1962, houve grande festa com direito a desfile de uma escola de samba pelas ruas do bairro de Campo Grande e comemoração no barzinho ( relatos apontam para o prédio do antigo Rei dos quadros atual farmácia) que havia na confluência (esquina do pecado), um grupo de torcedores e fiel torcida do galo chamada de Terceiro Time organizou um bloco original e executou a Sinfonia do Tamancos. A Sinfonia era uma espécie de charanga, só que ao invés de instrumentos os torcedores usavam tamancos para fazer barulho.

Sinfonia dos Tamancos também era o nome de um bloco carnavalesco campeão de vários carnavais passados e um dos maiores do bairro de Campo Grande e mais tarde se tornou escola de samba com sede na rua Carius. Havia também na confluência (esquina do pecado) a sede do Sinfonia dos Tamancos Futebol Clube.

Faz sentido para a autora a versão que a confluência (esquina do pecado) era um lugar boêmio e de fato lá havia um bar onde os passageiros do bonde frequentavam, além de relatos de moradores segundo uma reportagem do Globo que apontavam para uma casa de tolerância, de prostituição que havia no local (possivelmente atual Unisuam) e que foi removida na Era Vargas na luta contra o comunismo e pela moral e bons costumes. Foi na década de 1930 que os bordéis no Brasil tiveram seu auge, mesma década do prolongamento da estrada do Cabuçu até a avenida Cesário de Melo.

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