O Galo das calçadas de Campo Grande

Geralmente quando eu digo que moro em Campo Grande a primeira coisa que ouço é uma pergunta que algum “estoriador” me faz: Você sabia que grande era um grande laranjal?

As esculturas em tom de laranja de 1990, além de outras que estão espalhadas pelas ruas centrais do bairro e a mais famosa de todas; a escultura de uma laranja descascada na esquina da rua Olinda Ellis com a avenida Cesário de Melo, todas essas esculturas são alusivas a um momento da economia do bairro desde os primeiros anos do  século XX e até os anos 1940; a citricultura.

Não queremos dizer com isso que esse momento econômico do bairro não signifique nada mas não foi a única economia e historicamente não é o mais importante já que foram as mudas de café cultivadas no Mendanha no século 18 que possibilitaram o cultivo de café no Rio de Janeiro e por todo o vale fluminense.

Dito isso o símbolo do bairro que não é a laranja passa anônimo ,mal preservado e até desfigurado nas ruas do centro comercial do bairro, o Núcleo de Estudos Históricos e de Memória e Acervo de Campo Grande RJ( NEHMAC) mapeou e catalogou esse símbolo . São ao todo 28 símbolos desenhados em pedra portuguesa como o famoso símbolo de Copacabana, distribuídos entre as rua Augusto Vasconcelos , rua Coronel Agostinho, rua Viúva Dantas e Praça Raul Boaventura que representam o Galo Branco, presentes desde a década de 60 e mantidos com a criação do calçadão assinada por Burle Marx na década de 70

O periódico Diário de Noticias na década de 1960, chegou a promover uma enquete entre o leitores para tomada da decisão mais assertiva quanto ao símbolo para o bairro de Campo Grande, dada a repercussão que o assunto causou na opinião pública na época , recebendo até comentários de programas da TV carioca , algumas personalidades do bairro de Campo Grande se declararam contrários a cerca do galináceo como o Comendador Serafim Sofia que chegou a escrever sobre isso em seu livro Sorrisos Saudades e Lágrimas 1976

Maio, 21

Vou ao Rotary. Hoje é dia de almoço
semanal

Disse à Rosa para não trazer comida
de maneira que não indo eu paso mal.
É que vou ser obrigado

a passar a sanduiches de salame e não ver os Guaranys,
nem o Antônio Luiz
e o Gonzaga Pinto Mendes
_ Os três grandes progressistas da COCAME.

E também quero fazer, num intervalo
uma apelo sobre o galo:
Como deve estar cansado
sempre em cima duma perna!
Que pecado!
Ou se compra uma muleta pra lhe dar
ou, então, uma cadeira pro sentar
porque assim , como o puseram

é difícil que ele possa continuar.”

O Galo Branco foi eleito como símbolo do bairro nas comemorações do IV Centenário de Fundação da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro em Campo Grande e a decisão da adoção do Galo Branco no passeios dos logradouros comerciais foi tomada em uma reunião realizada em 1964 na Sociedade Musical 10 de Maio pela COCAME ( Comissão Campo Grandense de Melhoramentos) a principio caberia ao paisagista Burle Marx estudar um símbolo para as calçadas, mas a autoria do desenho ficou mesmo para Miguel Pastor, que assina também outras obras de referência no bairro de Campo Grande RJ.

Aplicado em um círculo de 80 centímetros de diâmetro, a escolha do galo como o símbolo do bairro de Campo Grande na época se deu porque o bairro atravessava um momento de expressiva prosperidade, além disso, setenta por cento da principal atividade econômica da região era a avicultura, que contava inclusive com a Associação Carioca de Avicultura (ACA), com sede inaugurada na rua Augusto Vasconcelos em 1960.

Fazia parte da ACA trabalhando na secretaria , a Rainha da Avicultura Carioca que foi eleita na antiga sede do Clube dos Aliados na rua Viúva Dantas em 1958.

É desse momento também a decisão da construção de um monumento em homenagem a Freire Alemão; o maior botânico do Brasil e natural da Serra do Mendanha e o lançamento do Brasão do bairro de Campo Grande:

“Escudo português em campo de sinople (verde) marco da esperança, abundância e liberdade; um galo de prata, símbolo do guerreiro valente, destemido e sempre pronto às armas. Representa, neste brasão, a prosperidade avícola da famosa região rural, do antigo Distrito Federal. Um chefe de blau (azul) ostenta em ouro, as seguintes peças: a cana-de-açúcar, símbolo da economia colonial, que teve em Campo Grande alguns dos seus engenhos, produtores; um ramo de café, evidenciando que se cultivou a rubiácea em larga escala na região, e a laranja, representando a riqueza citrícola que tantos dividendos trouxe para o Rio de Janeiro e para o Brasil. As estrelas, símbolo da vitória, destacam, respectivamente, à destra a à sinestra, Manoel de Barcelos Domingos, um dos primeiros povoadores das terras, fundador da paróquia em 1673 e Francisco Freire Alemão de Cisneiros, o conselheiro Freire Alemão, destacado como cientista, médico e botânico, nascido em Campo Grande em 24 de julho de 1797, tendo falecido na Casa de Porangaba – lugar bonito, ou de Boa Vista – em 11 de novembro de 1874.

Como suportes, à destra (direita) e à sinestra (esquerda), os dois golfinhos simbólicos de cidade marítima que ornam a brasão de armas do antigo Estado da Guanabara, apoiados sobre um listel de ouro com a seguinte legenda em goles (vermelho): 1673 – CAMPO GRANDE – 1961”, respectivamente, fundação da Freguesia da Matriz de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande e instalação da XVIII Região Administrativa. Encimando o conjunto, em toda a sua plenitude, a coroa-mural, característica da Cidade-Estado, tal como aparece no Brasão de Armas do antigo Estado da Federação, com suas cinco torres de ouro e a estrela de prata, símbolo da unidade federativa.

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